23/01/2015

Um futuro próximo - Conto


                Um planeta distante, após o planeta Terra ter ficado quase inabitável, é pra onde as pessoas estão seguindo. Ônibus espaciais e várias aeronaves vão e voltam todo mês, e sempre há mais e mais pessoas que precisam dessa carona pra se verem livres dos perigos do nosso antigo planeta. Hoje chegou a minha vez. Sigo em frente numa fila enorme, que já dura meses, ou seriam anos? Ouvi dizer que algumas dessas pessoas estão aqui esperando há muito tempo. Eu fico me perguntando se os novos perigos daqui não os atingiram. Pelo que ouvi falar, por aqui as coisas estão tranquilas por enquanto.

                Que tipo de perigos?

                Vários!

                Após o incidente que aconteceu, nosso planeta foi perdendo seus recursos naturais, sem a possibilidade de renovação, por causa da poluição e do estrago proveniente da última guerra. Aquele asteroide que atingiu nosso planeta e que todos conhecem a história, mas nunca lembram do nome dele. O evento mais chocante e mais amedrontador de todos os tempos. A perda da camada de ozônio do planeta, o oxigênio acabando, pessoas tendo que usar máscaras para sobreviver. Tudo isso em um curto período de tempo, logo depois da descoberta do planeta que chamaram de Terra 2. Um planeta numa galáxia distante, onde o sol alcança, mas não como no nosso planeta natal. Um planeta que não gira em torno de si próprio, portanto, dizem que enquanto de um lado será sempre dia, do outro será sempre noite. Acho que vamos ter que mudar a forma de pensar nessas partes do dia. Talvez até mudar a forma como o relógio trabalha. Mas acho que ninguém teve tempo pra pensar nisso ainda. Tudo aconteceu muito rápido e, pelo que dizem, estão “reconstruindo” nosso planeta do outro lado do universo. Lá faz frio, mas é o mais próximo que conseguiram encontrar de um planeta habitável para a humanidade nesse curto espaço de tempo que tiveram. O planeta nem foi completamente escaneado. A parte escura quase que totalmente desconhecida, mas o bastante pra saber que ainda teremos muito o que aprender sobre esse novo lar.

                Há alguns meses atrás eu era uma garota normal de 17 anos, que morava na cidade de Detroit. Adorava ler e assistir seriados. Adorava sair com os amigos no fim de semana. Adorava jogar RPG, mas nunca gostei dos ambientados em um futuro apocalíptico, e por ironia, estou vivendo num desses agora. A guerra culminou entre Rússia e Estados Unidos, quando ataques supostamente terroristas foram realizados e os Estados Unidos descobriram que seria seu rival de muito tempo querendo tomar o poder através da imposição do medo. A partir daí, começaram a guerrear e foi um caos total. Perdi meu melhor amigo num ataque e minha mãe foi atingida enquanto trabalhava e o prédio em que estava foi destruído. Parece familiar, não é mesmo? Os ataques começaram de repente. Meu melhor amigo Joe teve sua casa e o quarteirão onde morava totalmente destruído, mas isso foi depois que a cidade já estava em alerta. Minha mãe não. Ela teve o azar de ser uma das primeiras a ficarem sabendo que a guerra havia estourado. Literalmente falando. Seu prédio foi onde aconteceu o primeiro ataque, e toda a equipe do Detroit News foi soterrada.

                Eu estava na escola quando tudo começou. Foi muito de repente e o pânico se alastrou como fogo em uma mata. Todos desesperados por encontrar suas famílias, congestionamento no trânsito, policiais tentando controlar as pessoas, carros de bombeiro e ambulâncias passando a todo momento. Foi horrível!

                Hoje, seis meses depois, eu e meu pai conseguimos chegar ao local indicado para que os passageiros do nosso país fossem coletados. Dois meses após a guerra ter acabado. Seis meses após minha mãe ter partido. A alguns meses de encontrar a paz novamente, assim espero.

                O que foi isso?

                Um barulho estrondoso. Pessoas correndo e gritando. Isso não pode estar acontecendo! Será que eles nos encontraram.

                - Fique perto de mim, filha. – meu pai diz me puxando pra bem perto dele e me mantendo firme entre seus braços. As pessoas correm desesperadas.

                - Será que são eles, pai? – eu pergunto, já sabendo a resposta que iria receber de meu pai. Ele sempre tentou enxergar as coisas pelo lado positivo.

                - Creio que não, meu amor. Estamos muito longe do local onde atacaram. Talvez sejam os russos tentando completar sua vingança. – eu sabia que meu pai diria algo do tipo.

                Você deve estar se perguntando: “Quem são ‘eles’?”

                E aí eu me lembro que esqueci de explicar o que aconteceu há dois meses e alguns dias atrás. Bom, pelo menos eu tentei contar pela folhinha do calendário que eu virava todos os dias, mas depois que tivemos que fugir mais uma vez “deles”, perdi minhas coisas e tive que começar a observar a lua, que parecia estar cada vez mais perto, e contar por quantas noites passamos até hoje.


                Quando a guerra estava acabando, nossos recursos naturais já tinham perdido um pouco do seu valor nutritivo, digamos assim. Por causa de ataques nucleares constantes e por causa da degradação do próprio planeta. Pessoas contam que alguns sobreviveram aos ataques de alguém que veio de fora do nosso planeta. Essas pessoas espalharam os boatos e eu acredito que tudo tenha sido aumentado pelo medo, já que muitas das ferramentas que usávamos para nos comunicar já não funcionavam nessa época. Porque algo do que eles contam lembra filmes antigos contendo medos antigos da humanidade. A iminente mudança na atmosfera da Terra chamou a atenção de alguns moradores de outro planeta distante que, de acordo com o que especialistas dizem, já estavam nos observando há tempos. Esses seres são algo parecido com os humanos, mas são bem maiores. As orelhas pontudas e as asas e pele verde eu deixo pra lá, já que um pequeno grupo de pessoas contou isso uma vez, contradizendo algumas das coisas que eu já tinha ouvido antes. Mas o pior e mais amedrontador de tudo isso é que eles vieram pra cá à procura de alimento, e eu não falo dos nossos recursos naturais escassos até então, eu falo, digamos, de nossos recursos humanos mesmo. Eles se alimentam de carne humana. E dizem as lendas, o que eu também acho exagerado, que eles aproveitam cada pedacinho do nosso corpo, usando ossos para construir, usando fluidos corporais para fazer um tipo de gel para ferimentos, dentre outras bizarrices. Isso também parece familiar. Parece o que fazíamos com os pobres animais desse mundo. Sempre pensei assim, já que aderi ao veganismo quando tinha quinze anos, seguindo o exemplo da minha mãe. Não me arrependo em nada por ter feito isso. As pessoas me incentivavam a beber e a fumar, mas quando resolvi que iria parar de comer carne, elas me disseram que isso seria perigoso e que poderiam faltar nutrientes no meu organismo. Ao contrário dos vegetarianos, os veganos não comem nenhum tipo de produto advindo de animais, como o exemplo do leite e dos ovos, além da carne dos pobres bichinhos.

                Eles chegaram quando ambos os lados da guerra: os países que apoiavam a Rússia de um lado e os países que apoiavam os Estados Unidos de outro, se encontravam quase sem armamentos e recursos. Quando a humanidade já tinha se enfraquecido com a guerra. Quando a fome, miséria e doenças tomavam conta da maioria da população restante do planeta. Estávamos enfraquecidos, e foi aí que perdemos essa batalha contra os seres desse lugar tão distante.

                - Filha! – meu pai me chama.

                - Oi pai! – respondo, achando que ele tinha ficado com medo de eu ter adormecido ou algo pior enquanto me escondia com o rosto em seu peito.

                - Temos que ir. São eles. -



Fabiano Lobo

P.s.: Essa história acabou sendo estendida, e está sendo postada no Wattpad semanalmente. Acompanhe o desenrolar da história em tempo real clicando aqui.

2 comentários:

  1. Muito bom Fabiano!
    Enquanto lia, o filme passava na mente...

    Abraço The Best...

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  2. Valeu Marcos!

    Obrigado pelo apoio e por ter tirado um pouco do seu tempo pra ler!
    É bem assim mesmo que imagino. A gente lê e o filme vai rodando dentro da cabeça. É bem legal!

    Abraço cara!

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