Uma realidade alternativa de uma cidade mundialmente
conhecida? Definitivamente não.
Uma possibilidade de acontecimento em um futuro não muito
distante? Talvez.
Essas e outras perguntas me deixaram instigado desde o início
da leitura.
O conceito de segregação é muito claro em minha cabeça, já
que tive uma disciplina na faculdade que tratava desse e de outros assuntos
dentro da sociedade.
Motoqueiros, pichações, parkour, cheguei a ler alguns
artigos sobre essas práticas, que são classificadas como formas de ocupação do
espaço urbano de cidades grandes.
O que isso tem a ver com o livro?
Bastante coisa!
Rio 2054 é um livro distópico, sci-fi, cyberpunk, futurista
ou de ficção científica. Acho que nesse caso todos os termos são válidos. Como
não costumo dar spoilers nas minhas
“resenhas”, vou colocar a sinopse do livro aqui pra que vocês possam entender
um pouco do que estou falando:
“Rio de Janeiro, 2054. Três décadas após uma guerra civil
que começou com a disputa pelos royalties do petróleo, a cidade se vê alvo de
uma nova ameaça. Um velho jogo de intrigas e espionagem industrial entre as
multinacionais que controlam a cidade ganha novos contornos quando uma perigosa
jovem com poderes psíquicos surge nos guetos.
Alheio a tudo isso, Miguel é um jovem sem grandes pretensões. Morador de uma
região abandonada no pós-guerra, ele sobrevive catando restos de tecnologia e
tem uma vida despreocupada. Sem saber o que o destino lhe reserva, ele é
convidado para assistir a um duelo de motoqueiros e acaba se tornando o pivô de
uma disputa que pode mudar o Rio para sempre.
Num lugar onde o bem e mal se confundem, Miguel terá que desvendar os segredos
de uma misteriosa inteligência artificial e, para proteger aqueles que ama,
bater de frente com as poucas pessoas dispostas a salvar o que resta do Rio de
Janeiro. Sem saber que lado escolher, caberá a ele decidir o futuro de uma
cidade partida pela ganância.”
Miguel é um personagem carismático, indeciso e um pouco
medroso. Um tipo interessante de personagem para começar uma história e
acompanhar seu desenvolvimento ao longo desta. Achei interessante esse
desenvolvimento. Gosto de personagens bem detalhados e com diálogos possíveis e
humanos. Achei interessantes as falas, pois são justamente da forma como
conversamos, e não aqueles textos fictícios de diálogos mais vazios ainda. Pude
ver que o autor se preocupou com isso.
A história, desde o início, me deixou curioso. O que poderia
acontecer em uma cidade totalmente segregada e demonstrando aspectos futuristas
de um lado e praticamente total pobreza e miséria do outro? Quais aparatos
tecnológicos apareceriam como possibilidades de um futuro próximo? Que tipo de
vilões teria uma história desse tipo?
Fui me fazendo esse tipo de pergunta e ao longo da história
fui sendo respondido pela leitura.
Após ter lido o livro, percebi uma estranha realidade
pairando no ar: A maioria dos acontecimentos descritos no livro é totalmente
possível!
Sempre acompanho os avanços tecnológicos, sobre IA’s,
simuladores, comunicadores, tipos de armas e veículos, possíveis androides e
máquinas criadas atualmente e imagino que o autor também tenha pesquisado isso
enquanto escrevia, pois descreve várias dessas coisas com detalhes e coerência
com o que já ouvi falar. Isso me deixou ainda mais absorto na leitura e
terminei por pegar o livro nesse fim de semana e devorar as mais de 200 páginas
que ainda faltavam para ler.
Agora, pra você que está lendo porque quer uma indicação ou
uma opinião sobre o livro em geral, sem spoilers:
Escrita.
A escrita do autor é simples, com narrativa em terceira
pessoa e uma descrição detalhada dos fatos, sem se tornar maçante. Gostei
especialmente das cenas de ação, que me fizeram imaginar um filme rodando em
minha mente, com detalhes, trilha sonora e tudo o mais.
História.
A história é interessante e em muitas partes coerente com
nossa realidade e a realidade da própria cidade em que se passa, pois demonstra
a realidade dos morros do Rio, das drogas e da violência.
Personagens.
Bem detalhados e muito humanos. Humanos até demais!
Interessantes. Que me deixaram curioso sobre vários detalhes que são explicados
ao longo do texto. Personagens possíveis e com características e falas únicas.
Pode-se perceber que essa foi uma das maiores preocupações do autor na criação
da história.
Final.
Surpreendente! Um tipo de crítica à forma como agimos no
mundo atual. Quase um tapa na cara. Uma forma de dizer que a humanidade ainda
tem muito que evoluir.
No mais, recomendo muito a leitura! Achei muito interessante
e certa vez vi, não sei se no Google ou no próprio perfil do Facebook do autor
que teria um novo livro “São Paulo 2054”. Não tenho certeza, mas se for
verdade, aguardo ansiosamente para ver o que mais acontecerá nesse mundo
espetacular!
Leiam e apoiem a literatura brasileira.
Esse, junto com outros que ando lendo ultimamente, me animou
a procurar cada vez mais livros de autores daqui mesmo. Além da proximidade
deles (comprei o Rio 2054 do próprio autor!) e do carisma, as histórias são
desenvolvidas com uma pitada da nossa própria cultura, e assim paramos um pouco
de consumir excessivamente a cultura americana, nos identificando mais e mais
com os personagens e as histórias.
Parabéns autores brasileiros!
Eu apoio vocês!
Fabiano Lobo